Estrelas e planetas fora dos eixos, ou a história atípica de mundos distantes

Conceção artística de um planeta que ocupa uma órbita improvável em torno de uma estrela dupla

Conceção artística de um planeta que ocupa uma órbita improvável em torno de uma estrela dupla, acentuadamente inclinada em relação ao eixo de rotação das estrelas e ao plano de translação do conjunto dos outros corpos.
Créditos: NASA, ESA, e M. Kornmesser (ESA/Hubble)

Os planetas orbitam as estrelas, e as estrelas rodam sobre si próprias, mas será que estes dois movimentos estão sempre alinhados? Pormenores como este estão escondidos na luz das estrelas, e ajudam os astrofísicos a contar a história de mundos distantes.

Artigo de Charlotte Gehan1 em parceria com a National Geographic Portugal

 

Não é novidade que o nosso planeta se move em volta do Sol. Menos popular é o facto de o plano da sua órbita estar inclinado de apenas 7,25 graus em relação ao equador da nossa estrela. E se o Sistema Solar fosse um carrossel maluco e a Terra passasse por cima e por baixo dos polos do Sol? Aparentemente, apenas cometas de longa distância têm este tipo de órbitas, mas será assim também nos outros sistemas estelares? Primeiro temos de começar pela estrela, e descobrir para onde está a apontar o seu eixo de rotação.

De facto, as estrelas rodam sobre elas próprias, e o seu eixo de rotação pode estar a apontar para qualquer direção. Por isso, esse eixo pode estar mais ou menos inclinado em relação a nós, aqui na Terra. Por outras palavras, quando olhamos para uma estrela no céu noturno, poderemos estar a olhar para um dos seus polos, para o seu equador, ou para qualquer outra região intermédia.

O enxame de estrelas aberto NGC 3532, a 1300 anos-luz, na constelação da Quilha, no céu austral.
O enxame de estrelas aberto NGC 3532, a 1300 anos-luz, na constelação da Quilha, no céu austral. Estas estrelas nasceram da mesma nuvem de gás e poeira inicial. Rodam todas da mesma forma, ou segundo eixos diferentes? As mais avermelhadas são estrelas massivas e brilhantes que evoluíram rapidamente e que são mais fáceis de estudar.
Créditos: ESO/G. Beccari

Uma vez sabendo a orientação com que uma estrela se nos apresenta, estaremos não apenas melhor preparados para dizer como é que ela se formou, mas também, para estrelas que albergam planetas, para responder a uma pergunta que parece não ter nada que ver: serão os seus planetas adequados ao desenvolvimento de vida?

De modo a ajuizar sobre a habitabilidade de um planeta extrassolar, ou exoplaneta, temos de preparar o seu cartão de identidade: qual o seu tamanho, massa e distância da sua estrela, e se é gasoso como Júpiter, ou rochoso como a Terra. Praticamente todos esses mundos longínquos são invisíveis mesmo para os mais potentes telescópios atuais. Por isso, a sua história só pode ser reconstituída através de uma caraterização muito detalhada da sua estrela-mãe.

Precisaremos então de conhecer o tamanho e a massa da estrela, e determinar o quão evoluída ela é. É uma estrela parecida com o nosso Sol, ou uma estrela numa fase muito mais avançada da sua evolução, uma das chamadas gigantes vermelhas? A juntar a estas propriedades estelares, precisaremos de identificar o seu eixo de rotação e de compará-lo com a orientação do plano orbital dos planetas.

Ballet estelar ou street dance?

Consideremos um conjunto de estrelas que nasceu de uma mesma nuvem de gás e poeira original. Mais tarde formam aquilo a que se dá o nome de enxame estelar aberto. Um enxame bem conhecido, cujas estrelas mais brilhantes são visíveis a olho nu, é o enxame das Plêiades, na constelação do Touro. Se os eixos de rotação das estrelas no enxame estiverem todos alinhados, o que significa que todas as estrelas teriam inclinações similares, então isso irá sugerir que as estrelas foram talvez sujeitas a uma forte interação umas com as outras quando se formaram.

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  1. Charlotte Gehan é astrofísica no Instituto Max Planck para a Investigação do Sistema Solar, em Göttingen, na Alemanha, e é também colaboradora do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), em Portugal. É especialista em física estelar e utiliza asterossismologia para estudar a estrutura interna de estrelas evoluídas, como as gigantes vermelhas.