A componente óptica portuguesa, liderada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), e que irá integrar o futuro telescópio espacial europeu nos raios X, passou na revisão de requisitos e entra agora na fase de projeto.
Decorreu com sucesso, a 4 de março, a reunião que deu luz verde ao Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) para projetar um sistema essencial ao telescópio que fará uma radiografia do Universo nas altas energias a partir da próxima década.
“O nosso sistema vai chegar ao nível de Modelo de Engenharia nos próximos dois anos, ou seja, é um protótipo que vai ser testado em condições perto do real, que não vai ‘voar’, mas irá servir de base ao modelo de voo a ser construído numa fase posterior”
Manuel Abreu
O IA está a liderar o conceito e desenho de um sistema de metrologia, ou OBM (do inglês “Onboard Metrology System”), que permitirá orientar com exatidão o espelho do Athena, um telescópio espacial nos raios X, para o sensor de cada um dos dois instrumentos científicos desta missão.
Na reunião com os peritos da Agência Espacial Europeia (ESA) e representantes de outros consórcios que estão a construir o Athena, ficaram definidos os requisitos a que este sistema terá de obedecer para cumprir os objectivos do telescópio e para se integrar no conjunto do instrumento.
“Estes requisitos definem desde a função propriamente dita, que é medir com elevada exatidão a orientação de um espelho de captação de raios X que está a 12 metros, até à resistência a vibrações, choques e níveis de radiação, ou a tolerância à contaminação por partículas”, explica Manuel Abreu, do IA e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa).
Com o sucesso desta fase, começa agora o desenho e implementação de um sistema de conceção nacional que irá contribuir, quando o Athena estiver operacional, para conhecer melhor a formação e evolução de galáxias como a nossa, ou a história da formação das grandes estruturas que são o “esqueleto” do Universo.
Irá ajudar, em particular, no estudo dos buracos negros supermassivos no centro de galáxias em formação no Universo primordial, e fará ainda o mapa da distribuição do gás quente nos enxames de galáxias e no meio intergaláctico, essencial para a compreensão do processo pelo qual os enxames de galáxias se agregaram ao longo dos filamentos cósmicos, domínios da astrofísica em que investigadores do IA estão ativamente envolvidos.

Créditos: DB/X-IFU Consortium (Athena), e NASA, ESA, CXC, NRAO/AUI/NSF, STScI, and R. van Weeren (fundo).
“O nosso sistema vai chegar ao nível de Modelo de Engenharia nos próximos dois anos, ou seja, é um protótipo que vai ser testado em condições perto do real, que não vai ‘voar’, mas irá servir de base ao modelo de voo a ser construído numa fase posterior”, diz Manuel Abreu. “Portanto, estamos na fase de escolher a tecnologia que terá de ser compatível com o ambiente do espaço.”
“A participação portuguesa nesta missão de classe L da ESA demonstra, mais uma vez, a capacidade nacional para assegurar sistemas essenciais que permitirão o aumento do conhecimento científico através da observação do Universo”, comenta Marta Gonçalves, responsável pelas relações industriais e projetos da Agência Espacial Portuguesa (Portugal Space). “A liderança do IA e a parceria industrial que inclui a FHP e a Evoleo permite sublinhar a importância das sinergias entre as vertentes científica e industrial para a afirmação do setor espacial português, que ativamente contribui para a produção de riqueza a nível científico e tecnológico.”
Na nova fase que se inicia, o consórcio liderado pelo IA vai agora desenvolver uma solução que consiga, de facto, cumprir os requisitos, as especificações, os prazos e os orçamentos e que será apresentada na próxima revisão técnica, a ocorrer depois do verão. Este é apenas o primeiro passo antes de efetivamente se passar à construção, num projeto com o financiamento de quase um milhão de euros e em que o IA conta com três parceiros na indústria.
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Sérgio Pereira; Ricardo Cardoso Reis; João Retrê (coordenação, Lisboa); Filipe Pires (coordenação, Porto)