Espaço 2022: O próximo ano visto ao telescópio

Imagem artística do sistema exoplanetário TOI-178.

Imagem artística do sistema exoplanetário TOI-178. (Crédito: ESO/L. Calçada/spaceengine.org)

Saiba o que virá do céu no ano que vem. Investigadores do IA antecipam descobertas e os grandes passos em vários domínios no estudo do Universo.

Artigo em parceria com o SAPO TEK

As ciências do Espaço fazem-se com colaborações internacionais, a desenhar instrumentos que quase sempre quebram barreiras em tecnologia, e a tirar sentido dos dados recolhidos com eles. Neste olhar para 2022, é incontornável mencionar a terceira publicação de dados da missão Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), que está a registar as propriedades de mil milhões de estrelas para montar uma representação a três dimensões da Via Láctea. Terá aplicações, por exemplo, na reconstituição do passado da nossa galáxia, na descoberta de planetas em órbita de outras estrelas, e na deteção de pequenos corpos do Sistema Solar.  

Outro marco científico no novo ano será a informação na luz infravermelha que o telescópio espacial James Webb, da NASA em parceria com a ESA e a Agência Espacial Canadiana, irá disponibilizar a partir do segundo semestre. Investigadores portugueses participam em vários dos projetos aprovados para o primeiro ciclo de observações. Aquele que é o maior telescópio alguma vez colocado no espaço permitirá abordar todo um universo de questões, como a história de formação dos sistemas planetários, a génese das estrelas, o enriquecimento do Universo com elementos químicos hoje essenciais à vida (como o carbono e o oxigénio), e o inesperado “mar” de galáxias anãs extremamente ténues encontradas numa fase do Universo jovem, entre muitas outras.

O telescópio James Webb esperou mais de um quarto de século para se tornar realidade, o que diz muito da maturação que estes projetos exigem. É natural que os astrónomos, no próximo ano, estejam já a antecipar os acontecimentos de 2023. Um deles é o lançamento do telescópio Euclid, da ESA, com ativa participação nacional e que fará o mapa de milhares de milhões de galáxias, permitindo estudar-lhes a geometria e a história. A comunidade científica portuguesa está já a desenvolver algoritmos baseados em aprendizagem de máquina (machine learning) para classificarem automaticamente o chamado “desvio para o vermelho” – uma propriedade indicativa da sua distância e idade – de cada galáxia desta gigantesca coleção.

Conceção artística do telescópio Euclid. Na imagem em fundo, do enxame de galáxias Abell 2744.
Conceção artística do telescópio Euclid, uma das missões da Agência Espacial Europeia (ESA) dedicada ao estudo de galáxias e da estrutura do Universo. Terá os seus preparativos finais no próximo ano, para ser lançada em 2023.
Créditos: Telescópio Euclid – ESA/C. Carreau; Imagem de fundo – NASA, ESA, ESO, CXC & D. Coe (STScI)/J. Merten (Heidelberg/Bologna)

Bem assente na Terra, na montanha do Paranal, no Chile, terá início no próximo ano a instalação do instrumento MOONS. Ligado ao telescópio VLT, do Observatório Europeu do Sul (ESO), este espectrógrafo terá componentes portuguesas desenvolvidas pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA). A primeira luz cósmica que irá receber poderá ter percorrido o espaço durante quase 13 mil milhões de anos, trazendo-nos uma visão do ambiente em que se formaram as primeiras galáxias.

Para retirar informação do espectro de “cores” dessa luz, os cientistas estão já a desenvolver algoritmos de modelação dos dados, e a adaptar ferramentas de análise (por exemplo, que classificam as idades das estrelas dentro da cada galáxia) para que sejam extensíveis a galáxias observadas em fases cadas vez mais jovens.

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Texto de Sérgio Pereira, com as contribuições de Tiago Barreiro, Alexandre Cabral, Tiago Campante, Pedro Machado, Polychronis Papaderos e Nuno C. Santos.