Como forjar as mais deslumbrantes fornalhas da Via Láctea?

Região compacta de formação estelar Sh 2-106

Imagem obtida com o telescópio espacial Hubble que mostra a região compacta de formação estelar Sh 2-106, na constelação do Cisne. A estrela recém formada no meio da poeira no centro da imagem é responsável pela forma e pela turbulência visíveis na nuvem de gás circundante. Créditos: NASA & ESA

Imaginemos várias dezenas de sóis compactados numa única estrela. A tremenda explosão final de uma estrela tão grande é sentida através da galáxia até bem longe. Felizmente, estrelas destas são raras, e o motivo reside no seu local de nascença.

Artigo de Nanda Kumar1 em parceria com a National Geographic Portugal

 

Estima-se que a nossa galáxia contenha algumas centenas de milhares de milhões de estrelas. Nem todas são iguais. As estrelas vêm em diferentes tamanhos e cores. A nossa galáxia está inundada das mais pequenas, brilhantes na luz infravermelha, e portanto invisíveis aos nossos olhos. No topo da escala de massa estão as mais raras entre as raras, as pedras preciosas de cor branca na tapeçaria celeste. Os astrónomos chamam-lhes estrelas de tipo O.

Há apenas uma estrela de tipo O em cada conjunto de alguns milhares de estrelas. As mais leves podem ter 20 vezes a massa do Sol, mas os astrónomos encontraram exemplos incríveis com até 200 vezes. A sua superfície pode brilhar a uma temperatura de perto de 30 000 graus Celsius, o que é cinco vezes mais quente do que a superfície do Sol, mas algumas delas podem ser até 15 vezes mais quentes.

Estas estrelas morrem em explosões extremamente potentes, conhecidas por supernovas. A onda de choque e a pressão destas explosões propagam-se através do meio galáctico e são responsáveis por movimentos internos e de mistura na galáxia como um todo. Estes eventos cataclísmicos também oferecem muitos dos elementos químicos que estas estrelas fabricaram no seu núcleo, e por isso reconfiguram a constituição química do meio interestelar.

Todas as outras estrelas na galáxia, milhares de vezes mais comuns, têm menos de dez massas solares, e a maior parte delas, de facto, têm apenas uma fração da massa do Sol. Como é possível que as estrelas se formem em tal variedade?

Paradigma filamentos e nós
Esta infografia representa o paradigma de formação estelar baseado na ideia de filamentos gerados pelo fluxo de matéria em nebulosas. Foi proposto num artigo publicado na Astronomy & Astrophysics, fruto de um trabalho liderado por investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA).
Créditos: M. S. N. Kumar, P. Palmeirim et. al., 2020 / IA / Sérgio Pereira (CC BY-SA 4.0).

Maternidades estelares

Imagem da Nebulosa de Orionte no infravermelho.
Vista da Nebulosa de Orionte, também designada por Messier 42 ou M42, a 1350 anos-luz. Esta imagem, obtida no ótico e no infravermelho com o telescópio VISTA, do Observatório Europeu do Sul (ESO), revela pormenores nas regiões de poeira, como sejam estrelas muito ativas aí escondidas.
Créditos: ESO/H. Drass et al.

As grandes nebulosas de Orionte, Trífida, Ampulheta e Águia são alvos fáceis no céu para observar com um par de binóculos ou um pequeno telescópio. Estas nebulosas são nuvens de gás e poeira, das quais nascerão várias centenas de estrelas. A jovem maternidade estelar terá ainda de sair do seu casulo parental. Muitas das estrelas jovens serão como a nossa estrela, o Sol. Cerca de uma em cada dez tornar-se-á naquilo a que se dá o nome de anã castanha. Têm menos de um décimo da massa do Sol e por isso não conseguem gerar energia no seu núcleo por fusão nuclear. Uma em cada cem novas estrelas serão estrelas massivas, sendo as de última linha as estrelas de tipo O.

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  1. Nanda Kumar é astrofísico e estuda a formação de estrelas usando telescópios de topo a nível mundial nos regimes do infravermelho e do rádio. Depois de finalizar a sua formação de base e obter o doutoramento na Índia e um pós-doutoramento em Madrid, Espanha, em 2002 integrou o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, atualmente Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), onde é investigador principal FCT. Foi galardoado com a prestigiante Bolsa Individual Marie-Curie da Comissão Europeia para conduzir a sua investigação e atividades académicas na Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, no período 2015-2017.