Como foi que disse? – 4ª parte
Navegar no vocabulário da astronomia — Distâncias e medidas

Ilustração de astronauta

Créditos: Henrique Vitoriano

Há canções populares que utilizam um termo astronómico também popular: o ano-luz. São uma boa forma de inserir a astronomia no dia-a-dia, embora algumas utilizem o termo como se fosse uma unidade de tempo, em vez de distância.

Terminamos esta série, em que tentamos clarificar termos estranhos ou enganadores utilizados pelos astrónomos, com algumas medidas muito comuns em astronomia.

O ano-luz 

Temos de começar com um clássico: o ano-luz. Como muitas unidades de medida em astronomia, a confusão surge com a palavra ‘ano’, o que pode sugerir que é uma unidade de tempo. Em vez disso, o ano-luz refere-se à distância que a luz (ou radiação eletromagnética) consegue percorrer no vazio durante um ano: cerca de 9,46 biliões de quilómetros. Também se podem usar unidades mais pequenas, como dias-luz, ou horas-luz. A Lua está a cerca de um segundo-luz da Terra.

Minuto de arco e segundo de arco 

Tal como o ano-luz, os minutos de arco e os segundos de arco podem, à primeira vista, parecer unidades de tempo, mas são unidades para medir ângulos. Se pensarmos que há 360 graus na volta completa de um círculo, um minuto de arco é 1/60 de um grau, e um segundo de arco é 1/60 de um minuto de arco. 

Com um pouco de matemática, a medição de um ângulo, o ângulo de paralaxe, é uma maneira eficaz de medir a distância a estrelas que estejam até algumas centenas de anos-luz,… sem termos de sair da Terra. 

Se dividirmos a circunferência do equador celeste em 1 296 000 partes (360 graus x 60 minutos x 60 segundos), cada parte corresponde a uma amplitude de um segundo de arco

Os astrónomos costumam usar estas unidades para quantificar o tamanho aparente de objetos astronómicos no céu; por exemplo, o diâmetro aparente da Lua são cerca de 30 minutos de arco. Também são usadas para medir a distância aparente entre dois objetos no céu, como veremos na secção seguinte.

O parsec 

Parsec é uma forma abreviada de dizer “segundo de paralaxe” (do inglês, “parallax second”), que novamente pode levar a pensar que é uma unidade de tempo, quando na verdade é uma unidade de distância. 

Enquanto a Terra se move em torno do Sol, as estrelas próximas parecem mover-se contra o fundo de estrelas mais distantes e praticamente fixas. Podemos experienciar algo semelhante quando nos deslocamos, por exemplo, num comboio: objetos próximos da linha férrea ficam para trás mais rapidamente do que aspetos da paisagem mais afastados. 

Este movimento aparente é chamado de paralaxe. Com um pouco de matemática, a medição de um ângulo, o ângulo de paralaxe, é uma maneira eficaz de medir a distância a estrelas que estejam até algumas centenas de anos-luz,… sem termos de sair da Terra. 

O conceito de paralaxe estelar
Esta ilustração representa o conceito de paralaxe estelar. À medida que a Terra orbita o Sol, a posição aparente de estrelas relativamente próximas (até algumas centenas de anos-luz) varia em relação a estrelas mais distantes (e praticamente fixas no céu). Se o ângulo indicado na imagem for de um segundo de arco, então a distância da estrela ao Sol é de um parsec.

Créditos: NASA, ESA and A. Feild (STScI)

Num planeta imaginário que esteja a um parsec de distância, o Sol e a Terra serão vistos no céu afastados, no máximo, de um ângulo com um segundo de arco. Este valor pode ser menor, dependendo da orientação da órbita da Terra em relação à direção em que se encontra esse planeta. Um parsec é portanto a distância ao conjunto Sol-Terra a partir da qual a máxima separação angular entre o Sol e a Terra é de um segundo de arco.

O parsec é de facto a unidade de distância mais usada pelos astrónomos, porque é o resultado de uma medida direta. A distância em anos-luz é sempre um valor indireto, convertido a partir do parsec ou de outra medida de distância. Um parsec é aproximadamente igual a 3,26 anos-luz.


A série de artigos de que este texto faz parte tem por base o artigo “What did you just say? – Navigating astronomy’s confusing terminology”, de Anita Chandran, publicado no ESOblog, traduzido para português por Iara Tiago e expandido por Sérgio Pereira, do Grupo de Comunicação de Ciência do IA, com revisão científica de Ismael Tereno.