Um estudante de doutoramento do IA contribuiu para a inauguração do programa de observação em astrofísica do radiotelescópio RAEGE-Az, na ilha de Santa Maria, Açores
Uma antena com um prato de 13 metros de diâmetro, em pleno oceano Atlântico, pode ser usada para fazer investigação em astrofísica nas frequências rádio, demonstrou-o o trabalho que teve a colaboração de Pedro Martins, aluno de doutoramento no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa).
A antena Colombo, instalada na ilha de Santa Maria, nos Açores, faz parte da Rede Atlântica de Estações Geodinâmicas e Espaciais (RAEGE), estabelecida em 2015 e que monitoriza os movimentos das placas tectónicas e também a orientação do globo terrestre no espaço, ou seja, a atitude do eixo de rotação da Terra.
Este conhecimento é fundamental para estudar sismos e para manter os quadros de referência terrestre e espaciais, essenciais à navegação e aos satélites. Curiosamente, essas medições precisam de dados da astronomia – fontes astronómicas muito luminosas e muito distantes que possam ser consideradas como referenciais absolutos no Universo.
Essas fontes são em geral os centros de galáxias onde um buraco negro com milhões de vezes a massa do Sol está a atrair matéria, aquecendo-a ao ponto de brilhar com uma intensidade visível a milhares de milhões de anos-luz.
Foram galáxias como essas, mas mais próximas, que Pedro Martins observou com a antena Colombo no âmbito do seu projeto de doutoramento e da colaboração do IA e Ciências ULisboa com a Associação RAEGE Açores (RAEGE-Az). “Iniciámos recentemente um programa de monitorização de dezenas de galáxias ‘ativas’ no Universo. A ‘atividade’ que estamos a observar vem dos buracos negros que se encontram no centro destas galáxias, atraindo e aquecendo o material à sua volta”, diz Pedro Martins, citado pelo comunicado de imprensa da RAEGE-Az.
“Tal resulta numa enorme luminosidade que pode variar ao longo do tempo. O estudo desta variabilidade oferece informação vital sobre as características do buraco negro e a fase evolutiva da galáxia onde este está contido. A monitorização destes objetos permite-nos, portanto, perceber como se processa a evolução das galáxias nesta fase-chave das suas vidas”, acrescenta Martins.
O programa inclui também a observação de zonas de gás e poeira, chamadas nuvens moleculares, onde se estão a formar estrelas, e ainda nebulosas que resultaram da explosão (supernova) de uma estrela massiva. Estas observações podem ajudar a compreender as condições físicas das nuvens moleculares – densidade, temperatura e campos magnéticos, diz Valente Cuambe, da RAEGE-Az, citado no comunicado da associação.
Segundo o mesmo comunicado, as observações foram possíveis graças ao novo recetor de frequências rádio, no intervalo de frequências 2 – 14 GHz, instalado em outubro de 2022, e à colaboração com o IA e Ciências ULisboa. Pedro Martins apresentou estes resultados no Encontro Nacional de Astronomia e Astrofísica, em 13 de setembro, em Guimarães.
Artigo baseado no comunicado de imprensa de 12 de setembro da Associação RAEGE-Az