A um milhão e meio de quilómetros da Terra, o maior telescópio alguma vez colocado no espaço irá abrir perante o Cosmos as pétalas do seu espelho desdobrável de seis metros e meio de diâmetro. O novo telescópio espacial James Webb é uma pérola de tecnologia, e a partir de 2022 revelará um Universo mais nítido, mais profundo e mais antigo.
O lançamento está previsto para este dia 25 de dezembro a partir do astroporto de Kourou, na Guiana Francesa, a cargo da Agência Espacial Europeia (ESA). Idealizado há mais de vinte e seis anos, o observatório espacial James Webb (JWST) é um projeto da agência norte-americana NASA em parceria com a ESA e a Canadian Space Agency, em conjunto com 14 países.
Irá observar quase todas as fases da história do Universo, desde o nosso quintal cósmico – o Sistema Solar – até às regiões remotas do início do tempo, apenas algumas dezenas de milhões de anos após o momento da criação, o Big Bang. Observará sobretudo na gama dos infravermelhos, revelando objetos mornos ou frios que se escondem sob o fulgor da luz visível: a atmosfera de planetas, os pequenos corpos perdidos na periferia do Sistema Solar, estrelas em gestação, possíveis sinais da existência de vida em mundos em órbita de outras estrelas, e o aspeto exótico das primeiras galáxias que povoaram o Cosmos. Tudo isto são alvos da investigação da comunidade científica portuguesa, nomeadamente em equipas do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), do Centro de Física da Universidade de Coimbra (CFISUC) e do Centro de Astrofísica e Gravitação (CENTRA).
Ventos e moléculas
O estudo dos mundos do Sistema Solar – Marte, Júpiter, ou Saturno – requer missões dedicadas, sondas em viagem interplanetária durante anos até enfim, tão longe da Terra, observarem de perto as atmosferas e superfícies desses planetas. A capacidade de resolução do telescópio James Webb permitirá fazer algumas dessas observações aqui perto, apenas a um milhão e meio de quilómetros.
As suas observações no infravermelho poderão penetrar nas profundas camadas das espessas atmosferas de Júpiter, ou de Titã, uma lua de Saturno, a única lua do Sistema Solar com uma atmosfera de pleno direito. Irá assim obter com detalhe informação sobre a composição química, os ventos e a dinâmica global e a várias altitudes dessas atmosferas tão diferentes da da Terra.
Para além de planetas e luas, o Sistema Solar está povoado de pequenos corpos, sobretudo para lá da órbita de Neptuno. Pela sua pequena dimensão, os chamados objetos transneptunianos reservam ainda muitos segredos, o mais precioso dos quais é a própria história do Sistema Solar. Estes objetos primitivos evoluíram ainda assim ao longo de milhares de milhões de anos e cada vez mais se acumulam evidências de que houve muitas misturas entre os mais rochosos formados perto do Sol e os mais ricos em gelos que se formaram na periferia.
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Texto de Sérgio Pereira com contribuições de Susana Barros, Jarle Brinchmann, Nanda Kumar, Pedro Machado, Nelson Nunes e Nuno Peixinho.