Sociedade

Cientistas descobrem que atmosfera de Plutão desaparece no inverno e transforma-se em geada

10 maio 2019 9:33

Atmosfera de Plutão, observada pela sonda New Horizons da NASA em julho de 2015

nasa

Há uma nova visão da astrofísica que considera que os corpos para lá de Neptuno como Plutão, resquícios da formação do Sistema Solar, são algo de intermédio entre um planeta e um cometa

10 maio 2019 9:33

Há uma atmosfera no nono planeta do Sistema Solar, Plutão, apesar de ser um planeta anão, com menos de um quinto da massa da Lua, o satélite natural da Terra. Mas é uma atmosfera ténue e de uma natureza sazonal, desaparecendo no inverno ao condensar-se na forma de geada, revelam os resultados de um estudo internacional que envolveu a participação de um astrofísico português, Pedro Machado.

O estudo, publicado na revista "Astronomy and Astrophysics", acompanhou a evolução da atmosfera de Plutão ao longo de 14 anos, entre 2002 e 2016, tendo analisado a sua composição entre os 5 km e os 380 km de altitude, período que corresponde ao verão no hemisfério norte deste planeta anão, onde predominam os reservatórios de gelo de azoto, que sublimam pela exposição à proximidade ao Sol.

Uma rotação completa de Plutão demora 6,39 dias terrestres e a sua órbita à volta do Sol é percorrida em 248 anos terrestres. Como o seu eixo de rotação é muito inclinado, move-se quase deitado na sua órbita, "o que faz com que exponha permanentemente ao Sol as latitudes mais a norte durante uma fração dos mais de dois séculos que demora a sua volta completa ao Sol", explica um comunicado do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA).

Planeta anão ou cometa?

"Cada vez mais olhamos para a atmosfera sazonal de Plutão como uma atividade cometária", constata Pedro Machado, investigador do IA e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. "Como é um corpo de pequena massa", com uma gravidade reduzida, "as moléculas de azoto atingem a velocidade de escape com muita facilidade e Plutão perde atmosfera como os cometas". Com a chegada do inverno devido ao maior afastamento do Sol, as temperaturas da atmosfera estão a baixar e as moléculas de azoto "começam de novo a formar cristais perto da superfície do planeta, num processo semelhante à geada de água aqui na Terra", esclarece o investigador.

Sendo assim, Plutão é um planeta anão ou um cometa? "É algo de intermédio entre um cometa e um planeta, porque tem caraterísticas dos dois", afirma o cientista ao Expresso. "Esta nova visão é muito recente em relação aos chamados corpos transneptunianos como Plutão", que estão para lá de Neptuno. São planetas anões, asteróides e cometas, "resquícios da formação do Sistema Solar". E por isso podem dar muitas pistas sobre o que se passou nessa altura, há 4600 milhões de anos, e em especial como se formou a Terra.

"Quando Plutão está no periélio, isto é, mais perto do Sol, escapam-se mais moléculas do planeta, quase como se fosse a cauda de um cometa" ao aproximar-se da nossa estrela. "Mas a sua gravidade é suficiente para que, quando está mais longe do Sol (no afélio), as moléculas de azoto da sua ténue atmosfera cristalizem na forma de geada", conta Pedro Machado."E é isto que está agora a acontecer".

A equipa de Pedro Machado contribuiu para este estudo internacional com duas observações realizadas a partir do telescópio do Centro Ciência Viva de Constância, no distrito de Santarém, e também com a sua experiência no processamento e análise de dados. É um telescópio com um espelho de apenas 40 cm de diâmetro, mas nestas observações "não interessa tanto a resolução espacial mas o tempo e a precisão do alinhamento", adianta o investigador do IA.

"Chegamos até a usar telescópios portáteis de 25 cm, munidos de uma câmara de vídeo rápida muito sensível, com muitos frames por segundo". Mas se o objetivo for o estudo da composição das várias camadas da atmosfera de Plutão, são necessários telescópios muito mais potentes, "com espelhos de um metro de diâmetro ou mais".